Contaminação de Solos com combustíveis

23-02-2012 14:06

Autor: Celeste Rosa Ramalho Guedes
Imagens: ArcGIS, Soil Xchange

O grande problema de contaminação de solos e de água subterrânea com produtos derivados do petróleo está, na maior parte das vezes, relacionado com derrames de gasolina ou de gasóleo. A construção de estruturas destinadas ao armazenamento de combustíveis e a distribuição pelas vias rodoviária e ferroviária nem sempre são executadas de forma ideal.

Investigações realizadas mostram que cerca de 90% dos locais contaminados por esses produtos estão ligados, directa ou indirectamente, com depósitos de armazenagem subterrânea.
Nos países desenvolvidos existe um grande número de depósitos enterrados que contêm combustíveis. Estes depósitos estão, habitualmente, relacionados com estações de serviço, áreas de armazenagem de combustíveis de zonas industriais ou de prestação de serviços.

A instalação e o estado de conservação desses depósitos e estruturas associadas nem sempre são os mais desejáveis, acontecendo, frequentemente, derrame para o solo.
Contudo, a perda de gasolina para o solo começa logo nas refinarias, onde se dá a destilação do petróleo em rama e a sua manipulação e circulação através de pipelines, no interior das instalações, ou no exterior, para transporte a pontos de abastecimento em terra ou em portos, onde se efectua o enchimento de navios tanque, Camiões e vagões cisterna. Se os pipelines estiverem enterrados podem ocorrer rupturas e perderem-se substâncias em vários pontos, sem que os responsáveis se apercebam disso.
Em terra, os combustíveis, entre os quais a gasolina, são distribuídos pelas vias rodoviária e ferroviária até atingirem grandes áreas de armazenagem estratégicas onde as substâncias, uma vez mais, podem percorrer pipelines. Posteriormente estas substâncias são distribuídas por Camiões cisternas mais pequenos para os postos de abastecimento público onde são trasfegados para tanques de armazenagem subterrânea.

Durante o transporte podem ocorrer acidentes com os veículos cisterna, com o consequente perigo de derrame para o solo de grandes quantidades de combustível.

Apesar da volatilização poder contribuir em grande parte para a perda de substâncias para a atmosfera, especialmente se o acidente acontecer durante o período mais quente do ano e durante o dia, a migração das substâncias processa-se rapidamente em terrenos rochosos intensamente fracturados, ambiente geológico onde as repercussões são especialmente sentidas, ou em meios porosos altamente permeáveis.

Na operação de trasfega entre o produtor e o veículo de transporte e entre este e a área de armazenagem intermédia ou final existem sempre perdas para a atmosfera, daí a obrigatoriedade a destas operações se realizarem a 15°C, no sentido de minimizar as perdas por volatilização. No entanto, apesar dos cuidados tidos durante tais operações não deixam de ocorrer pequenas perdas (em maior ou menor grau) para os pavimentos e, posteriormente, na maioria dos casos, para o solo devido às operações de lavagem daqueles.

Nos postos de abastecimento público são muitas vezes os próprios utentes que, por distracção e descuido, derramam combustível para o pavimento, às vezes em quantidades da ordem de litros, apesar dos dispositivos existentes que deveriam ser accionados sempre que o depósito de um veículo estivesse cheio. Os postos de abastecimento mais recentes possuem sistemas de separação e recolha das águas resultantes das operações de lavagem do pavimento, mas nem sempre funcionam e as normas, por vezes, não são rigorosamente aplicadas.

A acrescentar aos casos referidos, há outras duas importantes situações de contaminação indirecta do solo. Uma delas deve-se à lavagem dos pavimentos urbanos, onde o fluxo diário de automóveis é muito elevado. Estes veículos vão perdendo, por diversas formas, combustível, óleos, etc. As águas de lavagem entram nos sistemas de drenagem que comunicam directamente com os rios, contaminando as águas superficiais e, posteriormente, os sedimentos.
Em alguns casos, vão-se perdendo directamente para o solo, através de pontos frágeis das condutas de escoamento. A outra situação relaciona-se com a deposição de solos contaminados por combustíveis em lixeiras. Quando os solos depositados em aterros sanitários possuem, além de gasolina, outras substâncias, como por exemplo óleos, devem ser sujeitos a compostagem.
Neste processo, durante a colocação do solo grande parte das substâncias voláteis é perdida para a atmosfera.

Quando ocorre um derrame de gasolina propriamente dito, este pode atingir os níveis aquíferos mais superficiais e/ou os seus compostos podem migrar na fase gasosa. Neste último caso, as vias mais comuns pelas quais estes contaminantes podem entrar em Contacto com os seres humanos são por concentração dos gases em estruturas enterradas e todo o tipo de condutas de distribuição de serviços básicos (água, electricidade, gás, etc.) ou recolha (esgotos, águas pluviais, etc.), nas caves e garagens dos edifícios de habitação ou escritórios ou, ainda, através das entradas de ar dos sistemas de ventilação dos edifícios.

A fase gasosa associada a estes derrames é altamente tóxica para os seres vivos e quando acumulada em áreas não arejadas pode atingir um nível de concentração que constitui um sério risco de explosão. Por estes motivos, a remediação de situações de derrame de gasolina exige uma intervenção urgente, nomeadamente em zonas urbanas onde não é possível evacuar por longos períodos de tempo a população dos edifícios de escritórios ou de habitação e onde têm que ser concretizadas as melhores soluções, exequíveis no menor espaço de tempo.
O processo de avaliação das condições locais é essencial para a tomada de decisão mais apropriada em termos de medidas de remediação a implementar. Quando a avaliação é bem feita consegue-se saber quais os poluentes presentes, a sua origem e distribuição, permitindo definir adequadamente a tecnologia indicada e aplicá-la da forma mais eficiente e rentável.

Os métodos para avaliação das condições locais deverão ter em conta os procedimentos convencionais de um estudo geotécnico ­ recolha de informação, definição do modelo das condições locais (topografia, litologia, hidrogeologia, hidrologia e drenagem), estabelecimento do programa de furos ou de pontos para colheita de amostras (solo ou vapor), tratamento laboratorial de amostras (geotécnico e químico), etc., mas com os cuidados adicionais exigidos nestas situações, de modo a evitar explosões, a exposição das equipas de campo e/ou de laboratório a perigos diversos ou a migração dos contaminantes. Por exemplo, na execução de furos de sondagem para recolha de amostras ou para monitorização deverá ter-se em conta a necessidade de selagem dos furos para evitar a propagação da contaminação. Por sua vez, as características físicas do solo deverão ser determinadas em solo não contaminado, obtido nas áreas envolventes que mantenham os padrões qualitativos originais.

Os métodos auxiliares indirectos são de extrema utilidade nesta fase. Os métodos geofísicos (radar de penetração, métodos electromagnéticos, resistividade eléctrica, detecção de metais, métodos sísmicos, métodos magnéticos) têm particular interesse nestes estudos ao permitirem identificar e localizar objectos enterrados, ajudar a definir as condições geológicas e hidrogeológicas e a delinear as áreas com contaminação residual (radar e resistividade).
Na avaliação de locais contaminados por combustíveis, e em particular por gasolina, a existência de sistemas que permitam a recolha e análise dos gases do solo é imprescindível, uma vez que pode ser considerada como a abordagem primária. Actualmente, existe uma série de kits e sensores (ópticos, turbidimétricos, etc.) e detectores portáteis (infravermelhos, fluorescência, etc.) que permitem dar uma ideia do grau de contaminação existente. A instalação de furos para monitorização permite um acompanhamento da situação no tempo, uma vez que periodicamente se poderão efectuar avaliações da qualidade da atmosfera desses furos, traduzindo as condições do solo que os envolve.

Para estudar o impacto da gasolina no meio ambiente é usual estudar o impacto dos componentes mono-aromáticos, particularmente benzeno e alquilbenzenos (tolueno, etilbenzeno e Xilenos) e isto porque os documentos legislativos que dizem respeito a estas situações e à sua monitorização estão baseados nos limites máximos admissíveis para aqueles compostos. Os BTEX, como são usualmente designados, são dos principais compostos da gasolina e migram imediatamente através dos meios porosos, são pouco solúveis em água e são altamente tóxicos.

De: https://www.engenhariacivil.com/contaminacao-solos-combustiveis


sustentabio.webnode.pt